Acusado de chefiar um grupo de extermínio na Capital e réu em quatro ações criminais, o empresário Jamil Name, 81 anos, ofereceu de R$ 100 milhões a R$ 600 milhões em troca da liberdade a um “ministro“. A proposta está gravada em vídeo durante audiência presidida pelo juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, sobre a apreensão do arsenal de armas de guerra em poder do guarda municipal Marcelo Rios.
O habeas corpus de Name está com o ministro do STF, Marco Aurélio de Mello. No dia 5 deste mês, o magistrado acatou pedido da defesa e determinou o retorno do empresário para Campo Grande. No entanto, a transferência da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) para um presídio estadual sul-mato-grossense está pendente de nova análise da suprema corte.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, apresentou recurso para manter Jamil Name na cidade potiguar. Ele destacou o suposto poder bélico e financeiro da organização criminosa e as ameaças contra o delegado do Garras, Fábio Peró, e ao promotor Tiago Di Giulio Freire, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Os advogados de defesa também recorreram contra a demora no cumprimento da decisão de Marco Aurélio. Desde segunda-feira (22), o processo foi encaminhado para ser analisado pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli.
Com o futuro dependendo de Brasília, Jamil Name foi interrogado na ação penal sobre o arsenal de guerra encontrado em uma casa no Jardim Monte Líbano. Passados 40 minutos de depoimento, logo após o magistrado anunciar o encerramento da audiência, o empresário fez a proposta, achando que não estava sendo gravado.
Falando com o juiz Roberto Ferreira Filho, ele pede: “diga para o seu amigo lá de cima, o ministro”. Em seguida, Jamil Name faz a proposta, de que pode pagar de “100 a 600, 600 milhões para o ministro” tirá-lo da cadeia. “Tem muita coisa escondida por trás disso aí”, afirmou, sobre a ofensiva para mantê-lo atrás das grades.
Esta não foi a única oportunidade em que o empresário acabou gravado em afirmações comprometedores. Na audiência sobre a obstrução de Justiça, Name foi claro nas ameaças de morte contra o agente do Garras, Giancarlo de Araújo Silva.
O Jacaré, portal que soltou em primeira mão a denúncia, procurou o advogado Renê Siufi para saber sobre a proposta de pagar até R$ 600 milhões a um ministro. O defensor não negou nem confirmou a oferta. “Eu não sei, porque não estava mais presente”, desconversou.
O juiz Roberto Ferreira Filho, que presenciou a proposta da propina ao ministro e a ameaça de morte contra o policial, deverá encaminhar a denúncia para ser apurada pelo Ministério Público Estadual e ao Supremo Tribunal Federal, conforme a reportagem apurou. Oficialmente, ele foi procurado por meio da assessoria do TJMS e aguardamos o retorno.
O vídeo pode minar a defesa de Jamil Name, que vem apresentando todos os recursos possíveis para converter a prisão preventiva em domiciliar e tirá-lo do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o isolamento mais rigoroso do sistema prisional brasileiro.
Em um dos depoimentos, ao ser questionado sobre o estado de saúde, o empresário afirmou que não tinha nenhuma doença. A declaração acabou reforçando a estratégia da acusação para mantê-lo isolado na Penitenciária Federal de Mossoró.
Name é réu por obstrução de Justiça, organização criminosa, porte ilegal de arsenal de armas de grosso calibre e pelo assassinato do universitário Matheus Coutinho Xavier. Ele deveria ser interrogado ontem pela morte do estudante, mas o interrogatório foi adiado porque os advogados não conseguiram viajar até o Rio Grande do Norte para conversar com o cliente.
Por isso, ontem, o juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, desmembrou o processo de homicídio pela terceira vez. A primeira foi para excluir os foragidos, José Moreira Freires, o Zezinho, e Juanil Miranda, acusados de matar o jovem. Agora, Jamil Name e Jamil Name Filho vão responder em separado pelo homicídio.
Já em relação ao policial civil Vladenilson Daniel Olmedo, ao guarda municipal Marcelo Rios e ao hacker Eurico Motta, a ação continua e entra na fase das alegações finais. Eles podem ir a júri popular antes dos empresários, que só deverão ser interrogados no próximo mês.
Fonte: O Jacaré