O avanço silente, porém devastador, do crime organizado no Brasil revela um quadro alarmante: segundo levantamento do Datafolha encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 19% da população acima de 16 anos — ou seja, cerca de 28,5 milhões de pessoas — afirmam conviver em bairros com presença explícita de facções criminosas ou milícias.
Este crescimento, de 14% em 2024 para 19% em 2025, é simbólico de que o Estado está perdendo terreno para a criminalidade controlada — um avanço que exige respostas rápidas e eficazes.
A expansão territorial da sombra
A pesquisa ouviu 2.007 pessoas em 130 municípios brasileiros entre 2 e 6 de junho de 2025, com margem de erro de ±2 pontos percentuais.
Os dados revelam que grandes cidades, capitais e especialmente a região Nordeste concentram maior presença dessas organizações.
Sem distinção de renda — mas com disparidades raciais
Curiosamente, o fenômeno atinge tanto os mais pobres quanto os de renda intermediária com quase a mesma intensidade — 19% dos que ganham até 2 salários mínimos e 18% dos que ganham entre 5 e 10 salários declararam conviver com facções ou milícias.
Por outro lado, a diferença racial é expressiva: 23% dos entrevistados que se autodeclaram pretos informaram viver em áreas sob domínio criminoso, contra 13% dos que se declararam brancos.
Os sinais visíveis da falência estatal
Não se trata apenas de convivência com o crime: entre os que moram em áreas dominadas por facções ou milícias, 27% disseram ter conhecimento de cemitérios clandestinos em sua comunidade — enquanto 40% encontraram “cracolândias” no trajeto casa-trabalho ou escola.
Além disso, 16% dos entrevistados afirmaram ter presenciado abordagens violentas da Polícia Militar — índice que sobe para 25% entre jovens de 16 a 24 anos.
O que está por trás desse avanço?
Para Renato Sérgio de Lima, presidente do FBSP, os números são claros: “os dados revelam a expansão e ampliação do poder de captura das facções em relação ao controle de territórios e mercados”.
Ou seja: não se trata mais apenas de tráfico de drogas nas vielas, mas de controle sistemático — de combustíveis, de armamentos, de postos de influência econômica — com o Estado desenhando-se cada vez mais como espectador.
Enquanto se discute políticas brandas de contenção, o Brasil segue permitindo que seus próprios territórios urbanos se tornem reféns de poder paralelo. A tradição de defesa da ordem pública, de punção firme contra aqueles que desafiam a soberania nacional, está sendo corroída.
Não basta reduzir homicídios ou furtos; é necessário resgatar a presença genuína do Estado, reestruturar o aparato de segurança com inteligência, operações coordenadas, prisões eficazes e sobretudo intervenção cultural que recupere o valor da autoridade legítima frente ao autoritarismo do banditismo.
Não há patriotismo verdadeiro sem controle das fronteiras internas — e o crime organizado está escavando essas fronteiras dentro de casa.
Caminhos urgentes
1. Reformulação imediata dos comandos estaduais de segurança pública com foco em coordenação nacional.
2. Inteligência compartilhada, investigação sobre financiamento, infiltração e redes sociais das facções.
3. Ressocialização zero-tolerância para milicianos infiltrados em serviços de “segurança privada” que operam ilegalmente.
4. Programas de recuperação territorial em regiões urbanas vulneráveis, com forte presença policial, cívica e comunitária.
5. Enfrentamento político com clareza: não apenas números e discursos genéricos, mas audiência pública, responsabilização de governantes passivos, e mobilização popular pela retomada da ordem.








