Em entrevista contundente, o ex-senador Delcídio do Amaral fez um alerta firme: o Mato Grosso do Sul (“MS”) tem a geografia, os recursos e a posição estratégica para assumir lugar de destaque no tabuleiro energético e logístico da América do Sul — mas está perdendo terreno por falta de planejamento, tecnologia e visão de longo prazo.
Delcídio relembrou sua trajetória no setor energético nacional — como diretor de Gás e Energia da Petrobras e ministro de Minas e Energia — e repudiou a lógica atual que transformou Estado e país em máquinas de arrecadação imediata, em vez de plataformas de desenvolvimento. “Ficamos para trás porque a preocupação passou a ser só arrecadação e imposto. E quem não abraça a tecnologia, não avança”, enfatizou.
MS e o eixo logístico-energético que está à espreita
Segundo o ex-senador, o MS permanece com vantagem geopolítica — seja pelo gás boliviano, seja pelo eixo do Rio Paraguai, que atravessa o Estado e pode impulsionar o transporte internacional de cargas rumo à Bolívia, Peru e Chile. Ele observa:
O Rio Paraguai ainda está subaproveitado como modal estratégico de integração regional, capaz de escoar minérios, fertilizantes e combustíveis vindos do Centro-Oeste brasileiro.
O gás natural boliviano pode tornar o MS um hub de transição para economias mais limpas — se houver investimento e infraestrutura, e não só discursos.
O desenvolvimento de uma matriz energética diversificada — com biomassa, gás, e tecnologias inovadoras — foi relegado no Estado. Exemplo: ele citou sua atuação ao defender a ampliação da térmica de Três Lagoas, movida a gás, em ciclo combinado.
A produção de energia no MS já mostra avanços: o Estado vem construindo um Plano de Transição Energética que visa tecnologias de captura de CO₂, aproveitando que mais de 90 % da sua matriz elétrica vem de fontes renováveis.
O recado ao poder público e à sociedade
Delcídio foi direto: “Temos potencial enorme e não merecemos ficar em último lugar”. A mensagem vai para gestores estaduais, agentes políticos e setores produtivos: sem tecnologia, sem planejamento e sem visão de futuro, o MS continuará vendo o desenvolvimento passar pela fronteira, enquanto poderia liderar.
Para ele, o Estado precisa urgentemente:
1. Recuperar o planejamento estratégico de longo prazo — não apenas metas fiscais e arrecadação.
2. Investir em inovação, ciência e tecnologia, promovendo a integração entre universidade, setor privado e Governo.
3. Alavancar corredores logísticos — como o Rio Paraguai — para conectar o estado ao Pacífico, Bolívia e Chile, ampliando o papel na cadeia global de cargas.
4. Valorizar os recursos energéticos — gás, biomassa, energia renovável — como vetores de desenvolvimento industrial e não apenas como commodities.
Por que o Brasil precisa do MS ativo?
O papel do MS no panorama nacional e sul-americano não é secundário. Ao ocupar a “porta de saída” para o Pacífico e ao atuar como ator-chave no agronegócio, indústria, energia e logística, o estado pode servir como ponte entre o Centro-Oeste brasileiro e o exterior. Delcídio lembrou ainda a experiência europeia de integração energética, dizendo: “A Europa começou com energia, com gás, com integração. Aqui poderíamos estar no mesmo caminho”.
Mas — frisou — “quem não abraça a tecnologia, não avança”. Sem esse “abraço”, o MS arrisca permanecer refém de políticas curtas e sem impacto estratégico.
Epílogo
Com o discurso firme e experiente de quem já esteve nos bastidores da Petrobras e do setor energético nacional, Delcídio do Amaral lança um alerta e uma proposta: o Mato Grosso do Sul pode e deve assumir protagonismo — mas isso depende de assumir visão, planejamento e tecnologia. Caso contrário, seguirá ocupando lugar secundário num quadro em que poderia liderar.
Para o portal Morena News, esta declaração ecoa como bandeira: afirmação de soberania, defesa do desenvolvimento energético e tecnológico regional, e crítica aos mecanismos que mantêm estados e regiões como meros coadjuvantes.
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