A crise administrativa na Prefeitura de Campo Grande ganhou novos capítulos após a secretária municipal de Finanças e Planejamento, Márcia Helena Hokama, simplesmente ignorar um convite formal da Câmara Municipal e deixar vereadores e técnicos esperando por respostas cruciais sobre o uso de recursos públicos. O gesto, considerado um ato de desrespeito institucional, acendeu o alerta no Legislativo e reacendeu suspeitas sobre sua relação direta com o ex-secretário Pedro Pedrossian Neto, apontado como influência silenciosa nas decisões da pasta.
Ausência estratégica ou desprezo pela transparência pública
A reunião estava marcada para tratar da execução orçamentária de contratos milionários de manutenção de vias e da operação “tapa-buracos” que consome recursos vultosos da prefeitura. Mesmo notificada, Márcia Hokama não compareceu e nem enviou representante.
Nos bastidores da Câmara, a ausência foi vista como estratégia calculada para fugir de questionamentos diretos sobre a destinação de verbas, pagamentos a empreiteiras e os critérios adotados para priorizar regiões específicas da cidade.
“Não é possível administrar de portas fechadas e costas viradas para a população”, criticou um vereador durante a sessão, exigindo que a secretária respeite o Parlamento e dê explicações públicas. Outros parlamentares afirmaram que a ausência demonstra falta de transparência e compromisso com o contribuinte, justamente no momento em que a cidade enfrenta um colapso visível na infraestrutura urbana.
A sombra de Pedrossian Neto
O que mais intriga os vereadores é a estreita ligação técnica e política entre Hokama e o ex-secretário de Finanças, Pedro Pedrossian Neto, figura que ainda exerce forte influência sobre a atual gestão. Ambos estiveram à frente das decisões que envolvem o fluxo de caixa municipal e contratos de grande impacto — inclusive aqueles agora sob suspeita de irregularidades operacionais.
Há quem afirme dentro da Câmara que Hokama atua como uma “continuação disfarçada” da gestão de Pedrossian Neto, reproduzindo os mesmos métodos de centralização e pouca abertura às cobranças legislativas. O receio é que exista uma linha direta de comando informal ainda em vigor, o que comprometeria a independência administrativa da secretaria e o controle real das finanças públicas.
“Ela deve explicações não apenas sobre os números, mas sobre quem de fato está tomando as decisões dentro da Secretaria de Finanças”, destacou outro parlamentar em tom crítico.
Vereadores prometem endurecer tom
Após o episódio, a Comissão de Obras e Finanças da Câmara anunciou que fará uma nova convocação em caráter obrigatório, desta vez sob pena de abertura de investigação caso a secretária volte a se ausentar. O presidente da Câmara, Epaminondas Neto (Papy), classificou a ausência como “inaceitável e desrespeitosa com o Legislativo e com a população”.
A postura firme dos vereadores demonstra um novo clima político na Casa, com crescentes tensões entre o Legislativo e o Executivo, que já vinha sendo acusado de blindar secretários aliados e esvaziar o papel fiscalizador dos parlamentares.
A conta que sobra ao cidadão
Enquanto isso, as ruas da capital continuam em estado precário, com buracos, obras paradas e contratos travados — reflexo direto da desorganização financeira e da falta de planejamento da prefeitura. Os vereadores cobram esclarecimentos sobre valores pagos, atrasos e empresas favorecidas, mas o silêncio da secretária mantém o cenário nebuloso.
Para o contribuinte, o resultado é o de sempre: impostos em alta, serviços paralisados e uma gestão que foge do debate público como quem teme o espelho da verdade.
Um símbolo da arrogância tecnocrática
O caso de Márcia Hokama escancara o modelo tecnocrático de gestão que se esconde por trás de discursos de eficiência: secretários blindados, decisões de gabinete e pouca transparência. A aliança com nomes experientes da velha guarda tucana, como Pedrossian Neto, fortalece a percepção de que há um grupo fechado controlando as finanças da capital, indiferente à cobrança popular.








