Presídio vira torres de comando , facção carrega o estado no lombo e o Gaeco/MPMS entra pra limpar o lamaçal

Na manhã desta sexta-feira (07/11), o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco/MPMS), deflagrou a chamada “Operação Blindagem” com o objetivo de desmontar uma organização criminosa armada que comandava tráfico interestadual de drogas, corrupção de agentes públicos e comércio ilegal de armas — tudo a partir de dentro do sistema prisional de Mato Grosso do Sul.

Os investigadores revelaram que o esquema operava com abrangência impressionante: em 12 municípios do estado — como Campo Grande, Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Jardim, Sidrolândia, Ponta Porã e Bonito — além de ramificações em oito Estados da federação.

Como funcionava o monstro

A investigação durou aproximadamente 25 meses e, segundo o MPMS, o grupo comandava remessas de entorpecentes para localidades tanto no interior de Mato Grosso do Sul quanto para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás.
As modalidades de transporte eram variadas e sofisticadas: caminhões com fundo falso, transportando ostensivamente alimentos com nota fiscal para dissimular o crime; envio via Sedex pelos Correios; veículos de passeio e vans com passageiros como “mula”.

Os laços com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) também foram constatados — a burocracia do crime envolvendo usura, violência contra devedores, uso de armas de fogo, restrição de liberdade de vítimas e corrupção de servidores públicos foi documentada.

A blindagem por dentro das grades

O nome da operação — “Blindagem” — foi escolhido porque membros da organização desfrutavam de privilégios dentro do sistema prisional: contavam com celulares em celas, trocavam informações sigilosas de sistemas de segurança, eram alocados em unidades de menor rigor graças à leniência ou cumplicidade de agentes penitenciários, e até decidiam transferências de internos inimigos de sua facção.

Foi justamente a descoberta de que o líder operava o esquema por meio de um telefone dentro da cela que desencadeou o trabalho investigativo e levou à identificação da corrupção no interior das prisões.

A ofensiva e os reflexos para o estado

Nesta fase foram decretados 35 mandados de prisão preventiva e 41 mandados de busca e apreensão em cidades de MS (Campo Grande, Aquidauana, Sidrolândia, Jardim, Bonito, Ponta Porã, Corumbá) e em São Paulo e Santa Catarina (Porto Belo (SC), Balneário Piçarras (SC), Itanhaém (SP) e Birigui (SP)).
A operação contou com apoio do Batalhão de Choque, Batalhão de Operações Especiais, Força Tática da Polícia Militar, e da AGEPEN — o que demonstra a gravidade e escala do combate.

O que isso diz sobre o Estado

Esse esquema evidencia como o sistema prisional brasileiro pode ser cooptado por organizações criminosas para comandar desde dentro operações que afetam não só uma cidade ou estado, mas uma grande parte do país. No caso de Mato Grosso do Sul, o alerta é duplo: tráfico interestadual e aliança com facção nacional.
O combate desse nível exige empenho contínuo de quem fiscaliza, de quem investiga e de quem executa — além de mudança estrutural profunda no cárcere e no sistema de controle de presos.

Conclusão

Enquanto facções se erguem e operam dentro das prisões, o Brasil perde coragem de agir e abre terreno para que o crime organize-se em escala industrial. Esta “Blindagem” assumida pela facção deveria, ao contrário, ser escancarada. O recado do MPMS e do Gaeco precisa gerar resposta rápida: não basta prender — é preciso neutralizar o ambiente onde o crime floresce.
A sociedade exige mais do Estado. E quem está do lado errado da lei vai saber que não tem mais abrigo — nem dentro das grades.