Campo Grande volta a encarar o peso dos velhos escândalos que driblaram a fiscalização e sangraram o dinheiro público. A Operação Tapa-buracos, símbolo de contratos suspeitos e obras de qualidade duvidosa, finalmente chegou a uma condenação contundente: o juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, sentenciou 10 réus e a construtora Proteco pelo desvio de R$ 7,066 milhões. O impacto final ultrapassa R$ 24 milhões em danos, multas e ressarcimentos.
A decisão atinge o coração político da Capital. O senador Nelsinho Trad (PSD), ex-prefeito e figura tradicional da política sul-mato-grossense, teve os direitos políticos suspensos por 12 anos e foi condenado a pagar R$ 1,4 milhão, somando multa civil e indenização por danos morais coletivos. É a primeira vez que a Justiça reconhece a participação direta de Nelsinho no esquema, após anos de denúncias, idas e vindas processuais e uma absolvição anterior na 2ª Vara.
A sentença publicada no Diário da Justiça desta sexta-feira (14) também derruba antigos pilares da administração municipal. Foram condenados os ex-secretários André Luiz Scaff (Planejamento e Finanças), João Antônio De Marco e Semy Ferraz (Obras) e Valtermir Alves de Brito (Administração). Todos integraram a engrenagem que, segundo o Ministério Público, sustentou contratos fraudulentos e alimentou desvios milionários.
O juiz também responsabilizou o empresário João Alberto Krampe Amorim dos Santos, figura influente em diversos contratos públicos, e sua sócia Elza Cristina Araújo dos Santos, apontados como beneficiários diretos do esquema que superfaturava serviços de tapa-buracos e drenava recursos da manutenção viária da Capital.
A maior sanção recai sobre a Proteco Construções, peça central da fraude. A empresa terá de devolver R$ 7,066 milhões, pagar R$ 500 mil por danos morais coletivos e ainda arcar com multa civil equivalente ao valor desviado — outro montante de R$ 7,066 milhões. Somados, os valores tornam a condenação uma das mais pesadas já aplicadas em casos de improbidade envolvendo obras públicas em Mato Grosso do Sul.
A decisão marca um ponto de virada. Depois de 11 ações protocoladas pela Força-Tarefa do Ministério Público e anos de expectativas frustradas, a Justiça finalmente reconhece o esquema como ato de improbidade administrativa, desmontando o discurso de inocência dos envolvidos e abrindo um novo capítulo na cobrança por responsabilidade.
O processo, que escancara como contratos simples — como o de tapa-buracos — podem se transformar em máquinas de drenagem de dinheiro público, deve repercutir no cenário político e jurídico. E, pela primeira vez, coloca Nelsinho Trad no centro de uma condenação formal por fraude e corrupção envolvendo sua gestão.
A cidade, que por anos conviveu com buracos nas ruas e rombos nos cofres, agora vê a Justiça pavimentar o caminho para um ajuste de contas histórico.








