Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, de 64 anos, um dos fundadores da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), deixou o Complexo de Gericinó nesta segunda-feira (15). Ele vai cumprir, agora, prisão domiciliar — após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) aceitar um pedido de habeas corpus.
A decisão monocrática é do ministro Sebastião Reis Júnior e foi tomada na terça-feira (9). Nela, o relator afirmou que a liberdade foi baseada em “razões humanitárias e excepcionais”.
O magistrado também ponderou que “a prisão cautelar passou a ser a mais excepcional das medidas, devendo ser aplicada somente quando comprovada sua inequívoca necessidade, devendo-se sempre verificar se existem medidas alternativas à prisão adequadas ao caso concreto”.Em substituição ao regime fechado, o ministro decidiu pela prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Celsinho também poderá acompanhar a esposa durante consultas em hospitais. Deise Mara de Souza Rodrigues está com metástase de um câncer
Ainda segundo a defesa, Celsinho sofre de hipertensão, diabetes tipo 2, dislipidemia e diverticulite aguda — doenças que exigem tratamento contínuo e, segundo os advogados, tornam inviável sua permanência no sistema prisional.
Advogado de Celsinho, Max Marques comemorou a saída de seu cliente do presídio.
“A justiça, em boa hora, reconhece que o senhor Celso reúne todas as condições de responder a qualquer processo em liberdade. A decisão reconheceu a condição delicada de saúde dele e o grave quadro de saúde de sua esposa, e ainda todo o seu histórico recente de acatamento às instituições e compromisso com a justiça”, disse ele.
A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que cumpriu o alvará de soltura em favor de Celsinho. O documento foi expedido pelo Tribunal de Justiça do Rio, determinando a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar com monitoramento eletrônico.
Celsinho foi preso em maio, na Vila Vintém, em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Segundo a Polícia Civil, ele e tinha se aliado ao Comando Vermelho (CV), com quem rompeu no passado, para retomar comunidades que foram dominadas pela milícia. Ele também teria feito negócios com um grupo paramilitar e “comprou” o controle da Vila Sapê, em Curicica.
Como foi a investigação
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Celsinho da Vila Vintém é preso — Foto: Reprodução/TV Globo
A investigação começou no dia 26 de fevereiro, com a prisão em flagrante de 8 traficantes armados na Vila Sapê, em Curicica, Zona Oeste.
Os homens contaram terem sido enviados da Vila Vintém por Celsinho para tomar o controle da localidade, até então dominada pela milícia de André Costa Bastos, o Boto.
Segundo os relatos, Boto, mesmo preso em presídio federal, negociou a “venda” da Vila Sapê para Celsinho, que imediatamente enviou tropas armadas da ADA para ocupar a área e iniciar a venda de drogas. Essa ocupação ocorreu sem resistência, o que chamou a atenção da inteligência da Polícia Civil e revelou uma aliança criminosa inédita entre milícia e tráfico.
A investigação evoluiu e identificou que, além do acordo com Boto, Celsinho também firmou um pacto com Edgar Alves de Andrade, o Doca (ou Urso), chefe do Comando Vermelho (CV), facção rival histórica da ADA.
“Existia uma aliança estratégica entre o Celsinho, o Boto e o Doca para tomarem outras áreas da Zona Oeste. Com essa aliança, eles buscam atuar em áreas do ADA que passam despercebidas, mas estão fortalecidas”, disse o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.
Esse acordo entre ADA, milícia e CV visava a consolidar o domínio da região de Curicica e adjacências com estabilidade, sem confrontos, e previa inclusive ações armadas conjuntas, como a execução do miliciano dissidente Fábio Taca Bala, morto por traficantes do CV a mando do alto comando, por se opor à entrada da ADA.
Com base nos depoimentos de traficantes presos, provas técnicas, movimentações prisionais e interceptações, o inquérito concluiu que Celsinho, Doca e Boto estavam no comando de uma associação criminosa voltada à exploração do tráfico de drogas em áreas estratégicas da Zona Oeste, utilizando armamento pesado, coação a moradores, homicídios e divisão territorial previamente pactuada.








