O governo da Bahia voltou a ser alvo de questionamentos após a nomeação do ex-prefeito de Ruy Barbosa, José Bonifácio Marques Dourado (MDB), para o cargo de assessor técnico na Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento. O ato foi assinado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) e beneficia um político que responde a graves acusações de corrupção.
Réu em ação penal movida pelo Ministério Público Federal, Bonifácio é acusado de participação em fraudes milionárias envolvendo recursos do Fundeb, entre os anos de 2013 e 2016, durante seu mandato como prefeito. As investigações apontam sobrepreço em licitações, contratos direcionados e desvio de dinheiro público, em parceria com empresários do setor educacional.
As apurações indicam ainda o envolvimento das empresas de Kells Belarmino Mendes, apontado como operador do esquema. Delações premiadas, documentos bancários, interceptações telefônicas e perícias foram reunidos no processo que corre na Justiça Federal.
Além das acusações criminais, o ex-prefeito também acumula condenações no Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Em abril de 2023, ele foi sentenciado a devolver mais de R$ 500 mil por irregularidades em uma obra de esgotamento sanitário inacabada e sem utilidade prática para os moradores do bairro Manoel Antônio, em Ruy Barbosa. O TCE ainda aplicou multa de R$ 5 mil ao ex-gestor.
A nomeação ocorreu dentro da estrutura comandada por Larissa Moraes (MDB), titular da pasta de Infraestrutura Hídrica e Saneamento. A proximidade política entre MDB e PT, já consolidada em nível nacional, se repete na Bahia e levanta suspeitas sobre o real critério adotado para a escolha do novo assessor.
A decisão repercutiu negativamente entre opositores e representantes da sociedade civil, que consideram inaceitável a presença de réus por corrupção em cargos públicos estratégicos. Para críticos, trata-se de mais um exemplo de como o governo petista relativiza princípios de moralidade administrativa em nome de alianças políticas.
Questionado, o governo estadual limitou-se a afirmar que as nomeações seguem “critérios técnicos e administrativos definidos pela gestão pública, em conformidade com a legislação vigente”. A resposta, porém, não elimina as dúvidas sobre a compatibilidade ética da escolha.
Enquanto isso, em Ruy Barbosa, os moradores seguem convivendo com obras abandonadas, promessas não cumpridas e a lembrança de uma gestão que hoje volta ao noticiário, não por realizações, mas pelos processos que carrega.








