Música erudita invade escolas da rede municipal de Campo Grande e transforma panorama cultural

Em uma iniciativa que foge ao repertório habitual das escolas, o projeto Música Erudita nas Escolas devolve a artistas e instrumentos ao convívio dos estudantes da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande (REME), permitindo-lhes experimentar o universo da música clássica de forma acessível, direta e interativa. Com concertos ao vivo e oficinas dentro das unidades de ensino, o projeto tem como objetivo principal romper com a ideia de que “música erudita é coisa de poucos” e apresentá-la como parte do cotidiano cultural de jovens que, muitas vezes, sequer imaginaram sequer assistir a uma apresentação desse tipo.

A proposta e o cenário

O trio Opus Vivare — composto pelo violonista Evandro Dotto, pela soprano Bianca Danzi e pelo violinista Gabriel Almeida — é o executor da ação nas escolas. As apresentações ocorrem pela manhã, em duas unidades municipais de Campo Grande, com horários planejados para que os alunos estejam no cotidiano escolar comum.
O repertório atravessa períodos da história da música — do barroco ao romantismo, contemplando também composições contemporâneas — o que permite que os estudantes percebam a amplitude da música erudita e sua relação com diferentes momentos culturais.
Mais do que isso: além do concerto, há oficinas de sensibilização musical, com o objetivo de tornar a experiência ainda mais participativa e significativa para os estudantes.

Por que isso importa

Muitas crianças e adolescentes frequentam escolas públicas sem ter contato com concertos ou mesmo com apresentações musicais diferenciadas. Segundo Evandro Dotto, idealizador da iniciativa:

> “As crianças e os adolescentes de hoje quase não têm acesso a essa cultura, que acabou se tornando algo muito seleto. Então, o projeto tem uma função importante de apresentar a música erudita e mostrar a riqueza e variedade que ela tem.”


Levar esse tipo de experiência até escolas, inclusive em bairros periféricos, tem um valor simbólico e prático bastante relevante: demonstra que a cultura “alta” não está restrita às salas de concerto ou somente a audiências específicas, e que esse tipo de vivência também pertence aos alunos da rede.
Além disso, inserir a música erudita no ambiente escolar ajuda a formar novos públicos, despertar sensibilidades e criar referências culturais que dificilmente se formam apenas pela exposição à mídia ou à cultura popular: a vivência de um concerto ao vivo, ver os músicos de perto, escutar instrumentos e vozes — tudo isso enriquece o repertório afetivo e cultural dos jovens.

Resultados e impactos observados

Embora ainda recente, o projeto já provoca efeitos visíveis. Para muitos estudantes, o concerto representa o primeiro contato com esse universo musical: a técnica dos músicos, a sonoridade dos instrumentos, a interpretação vocal — tudo isso impressiona e “abre a mente”.
Nas escolas participantes, o plano é que essa iniciativa sirva como catalisador para outras formas de arte e cultura, reforçando a ideia de que a escola não é apenas um lugar de ensino mecânico, mas também de descoberta, criação e experiência estética.
A presença de oficinas, portanto, é estratégica: transforma o papel dos estudantes de “plateia” em “participantes”, ampliando a aprendizagem e o engajamento.

Possíveis desafios

Há, no entanto, pontos a serem observados para que o efeito seja sustentável:

Garantir que a infraestrutura das escolas (salão de apresentação, acústica, público sentado, etc.) seja adequada para um concerto.

Fazer com que o contato não seja apenas pontual: a continuidade e repetição dessas experiências aumentam o impacto a longo prazo.

Integrar essas ações com o currículo escolar de forma que não sejam vistas como “evento isolado”, mas parte de um processo educativo mais amplo (artes, história da música, cultura regional, etc.).

Avaliar e registrar os efeitos: quantos estudantes se sentiram motivados, quantos manifestaram interesse por música depois, se houve reflexo em comportamento, rendimento ou engajamento escolar.

O que vem a seguir

O projeto “Música Erudita nas Escolas” está entre as iniciativas apoiadas por políticas culturais federais e municipais (como a Política Nacional Aldir Blanc), o que lhe confere estrutura e legitimidade para ser ampliado.
Para as escolas da REME e para estudantes de Campo Grande, isto representa mais do que “apenas” um concerto: pode ser o primeiro passo de uma trajetória de aproximação com a arte erudita, com instrumentos, com voz, com repertório, com a própria autoestima de pertencimento à cultura.